quarta-feira, junho 13

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Tempos Modernos (parte 4)





                Boa noite leitores!
                Trago aqui para vocês a quarta parte do meu conto Tempos Modernos! Para quem ainda não teve a oportunidade de ler as outras três partes, estou disponibilizando através dos links abaixo essas partes:

Tempos Modernos Parte 1
Tempos Modernos Parte 2
Tempos Modernos Parte 3

              Boa leitura a todos.


Autor: Leon S. Vellasco
Twitter: @Lucianovellasco


Tempos Modernos

IV – Os Falsos


        - Será um sonho? – Ela perguntou-se pela enésima vez enquanto vestia-se. – Um vampiro de verdade... não acredito que eles existem mesmo! – e um sorriso abobalhado brotou em sua face.
            Agora, devidamente vestida, Jessica esperava pelo vampiro sedutor e seu namorado idiota. Não iria perdoá-lo por tê-la abandonado em um cemitério, nua e a vista de um cara que eles desconheciam por completo. A verdade era que ela não estava nem aí para ele. O cara era popular, bonito e forte, o sexo era bom, mas somente isso e nada mais. Não era inteligente, não era nada esperto e o principal: ele não gostava do que ela gostava. Claro que ele jamais gostava de acompanhá-la ao salão de beleza ou ao shopping para fazer compras, isso até que Jessica podia relevar. Max não gostava nem um pouco de sua paixão pelo romance sobrenatural. Os romances entre vampiros e humanos, anjos e humanos e demais seres feéricos eram tudo para a garota, e Max achava aquilo muito esquisito. Ele não ia às reuniões do fã clube nem amarrado. Já até arranjou confusão com os amigos dela por ciúmes besta. Então que ele fosse embora. Foda-se. Ela acabara de conhecer um vampiro de verdade! As amigas... ahhh... as amigas. Irão morrer de inveja quando descobrirem!
            Ficou corada com o pensamento.
            Ela queria saber mais sobre ele, muito mais. Será que o que diziam sobre eles era verdade? Bom, ao menos havia comprovado que eles dormem em caixões e sentiam o cheiro de sangue. Será que ele tinha medo de cruz? Derretia com água benta? Possuía superforça? Provavelmente sim. Para levantar a tampa de concreto daquele caixão, uma pessoa deveria ser superforte. Jessica pegou o celular do bolso e acionou um aplicativo que ligava a mini lanterna e direcionou o feixe para o interior do caixão. Ele estava no meio da cripta, quase que isolado de todo o restante do lugar. Se Jessica fosse perita na confecção e estudo de mausoléus, tumbas e demais locais de sepultamento, diria que o caixão tinha uma cor quase dourada, proveniente da madeira teca usada em sua confecção. Os entalhes feitos na madeira brilhavam levemente com uma cor acobreada, sendo perceptível para alguém que entenda dessas coisas um padrão decorativo feito à mão. O caixão era todo em madeira sólida, com o mesmo padrão de desenho no tampo e nas laterais, a divisa entre tampo e lateral feita por uma faixa entalhada em latim, numa cor de ouro em um tom mais escuro. Jessica notou, ao olhar com mais atenção, que a seda roxa cobria todo o seu interior, sendo mais almofadada no fundo como um travesseiro. Aparentava ser novo, como se recém-fabricado. Ela então ficou imaginando qual a idade daquele vampiro e há quanto tempo ele estaria ali deitado. Outras tantas perguntas atropelavam-se em sua mente quando uma voz sinistra e ao mesmo tempo sedutora irrompeu no aposento:
            - Demorei? – indagou o homem pálido.
            Jessica tomou o segundo maior susto de sua vida. Quando aquele homem havia entrado? Nem mesmo seus passos ela conseguira notar. O susto foi ainda maior quando viu que ela carregava alguém no ombro.
            - Max! – exclamou. – Ele está bem?
            - Não se preocupe – pediu o vampiro, o timbre de sua voz era suave, apaziguador. – Ele está dormindo agora.
            Ela se acalmou. Melhor que estivesse desacordado mesmo, assim poderia conversar mais a vontade com o vampiro.
            O homem pálido depositou o corpo de Max atrás de seu caixão com um pouco de cuidado, apenas o suficiente para não assustar sua interlocutora. Precisava de respostas. Tinha de saber tudo sobre o novo mundo em que acordará.
            - Então, Jessica – aproximou-se dela –, você me disse que estávamos no ano de 2012.
            - Sim – afirmou em êxtase. Estava completamente hipnotizada pela beleza feérica do vampiro.
            - Então eu dormir bastante dessa vez – ele comentou mais para si do que para ela.
            - Quem é você? – ela finalmente conseguiu reunir coragem para perguntar.
            - Ohhh, mil desculpas, doce dama – disse cortês. – Meu nome é Dimitri. Dimitri LionGate. Descendente de uma nobre família portuguesa.
            - Seu sotaque não se parece com o de um português – ela atreveu-se a comentar.
            - Certamente. Estou vagando por este muito a muito tempo e sua língua nativa não é um problema. Posso me adaptar rápido aos costumes de um novo território – e de fato podia. Estava no Brasil a tanto tempo que até mesmo seu sotaque lusitano havia perdido.
            - Eu tenho tantas perguntas!
            - Terá suas perguntas respondidas em breve – às palavras vieram gentis até os ouvidos de Jessica e ao mesmo tempo elas passavam a ela um tom de ordem. – Agora, a pergunta que mais intriga minha mente secular é: como sabe a meu respeito? Existem outros despertos?
            - Na verdade... – ela hesitou. – Você é o primeiro vampiro que eu conheço.
            O vampiro soergueu as sobrancelhas e olhou fixamente para a garota. Algo ali não fazia sentido.
            - Mas – ela continuou –, eu leio sempre livros sobre vocês.
            - Livros. Então escrevem contos épicos a nosso respeito nos dias de hoje! Interessante. Então creio que você leu Drácula de bram stoker? – e se orgulhava sempre quando lembrava o nome do vampiro que o transformou.
             Ela fez que não com a cabeça.
            - Não sei de que livro você está falando.
           - Você conhece os vampiros e não conhece o Conde Drácula? – sua voz ainda era suave e doce aos ouvidos de Jessica, mas ali surgia a voz da frustação.
            - Não. – afirmou. – Você provavelmente dormiu demais e agora não sabe das novas tendências do mundo. – estava cada vez mais a vontade na conversa. – Veja – ela abriu o casaco de frio que usava e mostrou a blusa que estava por baixo. Havia um homem com um topete ridículo e cara pálida abraçando uma mulher, atrás dos dois ainda tinham mais quatro indivíduos igualmente pálidos.
            “Albinismo?” – indagou Dimitri em sua mente perversa.
            - Quem são esses mortais? 
            - São vampiros. Iguais a você.
           “Nem se meu pai fornicasse com mil prostitutas e se meu criador tivesse me mordido mil vezes eu me pareceria com esses ai.”
            - Eu sou do fã clube deles.
            - Fã clube? – indagou perplexo. – Isso é um clã? Agora meus irmãos escravizam mortais?
            Jessica não entendeu absolutamente nada do que ele quis dizer.
            - Humm... acho que sim.
            Havia algo muito errado ali para Dimitri. Vampiros viviam escondidos, vivam reclusos em sua eterna solidão. Estavam condenados a gastar sua imortalidade sozinhos. Caçando a noite e dormindo ao dia. Num ciclo vicioso que iria se repetir até o fim dos tempos. Era esse o código. Apesar dos mortais saberem de sua existência, eles eram poucos e prudentemente deixavam-nos em paz, alguns até tinham tratados de trégua, pois entendiam sua supremacia e poder a ponto de não iniciar uma guerra entre as duas raças. Agora isso? Vampiros escravizando os mortais? Os anciões não deveriam permitir isso. Vampiros não precisavam de escravos para provar que eram os senhores da noite. Somente bárbaros escravizavam. Somente os fracos tentavam dominar os outros com o uso da força bruta.
            Dimitri aproximou-se de Jessica seduzindo-a com o seu andar e ela deixou-se levar. Ela encostou a mão no rosto do vampiro.
         - Seu rosto é gelado... Exatamente como descrevem nos livros... – e ela mal podia esperar para contar que teve uma cena dessas de cinema com um vampiro de verdade.
            - Apenas relaxe. – Ela prontamente obedeceu.
            O vampiro encostou sua unha no pescoço de Jessica e abriu um pequeno talho que imediatamente verteu sangue. Ele inclinou a cabeça para frente e lambeu o líquido escarlate. Precisava de um pouco do sangue dela para ativar o seu poder.
            O sangue das pessoas contém fragmentos de memórias. Quando um vampiro ingere o sangue de alguém ele toma para si toda a vida de sua vítima. Como em um flash back ele observa todos os passos do humano desde os primeiros dias até o último dia de sua vida. Era como hoje em dia digitar a senha do banco de dados e saber tudo sobre a vida dela. Onde ela morava, o nome de seus familiares, senhas de banco e tudo o mais que estivesse registrado. A primeira memória acessada pelos vampiros é a última pensada pelos que tiveram seu sangue drenado. Dimitri vislumbrou um pedaço do passado de Jessica e em sua mente veio à imagem que queria no momento: livros de vampiros. Mas não eram os livros que ele tinha em mente, eram outros que ele nunca havia visto. Havia “vampiros” na capa. Eles mais pareciam modelos ou figurantes de peça de teatro do que vampiros de verdade. Uma clara ofensa a sua raça. Ele teve acesso às memórias dela lendo os livros...
            Seu sangue ferveu.
            E todo o seu ser entrou em uma fúria inumana.
            - O que... você fez? – Jessica indagou vacilante. Mal tinha notado o corte no pescoço, mas notou o semblante tétrico do vampiro.
            - Apenas acessei suas memórias – a fúria ainda estava lá e ele a controlava com todas as suas forças, sua vontade era de voar no pescoço da garota imediatamente. Agora ele entendia tudo. Os vampiros não haviam feito escravos. Os humanos que estava satirizando os vampiros. Havia uma linha tênue entre adoração e isso! Os humanos iriam pagar pela afronta.
            Jessica sem entender o que ele havia feito retirou o celular do bolso.
            - Olha – pediu Jessica tirando o vampiro de seus devaneios. Estava a ponto de estrangular a garota, mas se conteve, queria saber mais sobre esse fã clube. – O pessoal do fã clube vai se encontrar aqui – no celular dela um ponto vermelho piscava indicando a localização exata de um endereço.
            - Que espécie de mapa é esse? – e a fúria deu lugar a curiosidade.
            - É um GPS – ela sorriu. – Funciona assim – e ela explicou ao vampiro como se usava o aparelho e disse que ele mostraria o caminho para quem o estivesse usando à medida que a pessoa avançava. – Às vezes eu me perco... – informou meio constrangida.
            Agora ele não precisava mais dela.
            Hora de comer.
            - Você brilha a luz do dia? – ela perguntou e aquela pergunta fez ferver ainda mais o sangue que havia consumido naquela noite. Havia lido através da memória dela que havia “vampiros” que não tinham problemas com a luz do sol. Como se os arcanjos fossem permitir uma coisa dessas! O primeiro foi amaldiçoado pelos próprios e seria uma afronta à decisão deles haver um vampiro que pudesse caminhar a luz do dia.
            Uma carranca grotesca tomou conta da face do vampiro, mas ele a escondeu nas sombras. Essa mortal iria aprender de uma ou duas coisas sobre os verdadeiros vampiros aquela noite.
            - Acho que poderemos descobrir em breve.
            Jessica olhou para o relógio do celular. 5:20. Em poucos minutos o sol iria aparecer no horizonte. Seria a prova definitiva que seu sonho de ver a beleza dos vampiros à luz do dia era real. E não que eles torram no sol como muitos descrentes por ai dizem. Iria viver seu sonho de princesa.
            - Eu quero descobrir.
            - Ótimo – e aquela foi à primeira vez em sua não vida que ele estava ávido por ver o sol nascer.
            

5 Bilhões de Comentários:

  1. "Ele está dormindo agora" ele esqueceu de dizer o resto -qq
    Acho que ela devia morrer logo u___ú

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  2. Ele só não disse o resto para não assustar a pobre coitada. Se ela morresse logo não teria final. xD

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  3. Muito bom! Mal posso esperar para ver o que o Dimitri vai fazer com os outros fãs.

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  4. Acho q ele vai gostar da ingenuidade dela

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